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Autossalvamento

Esta palavra ajuda ou atrapalha na percepção de risco de afogamento para uma criança que faz aula de natação na primeira infância?


Autossalvamento aquático é uma expressão comumente usada para identificar ações que são ensinadas e treinadas em aulas de natação com o objetivo de prevenir um dos grandes medos de qualquer adulto que tenha sob sua guarda uma criança, o afogamento. Mas, até onde o termo exprime aquilo que realmente é possível a uma criança, na primeira infância (de 0 a 6 anos conforme definida na lei n. 13.257, de 8 de março de 2016, conhecida como Marco Legal da Primeira Infância), realizar de forma independente, sem auxílio de outra pessoa para se livrar de uma situação de dificuldade na água?



 

Para responder essa pergunta precisamos entender o significado do prefixo “auto.” Ele exprime "si mesmo, de si mesmo, por si próprio". Portanto, autossalvamento afirma que a criança tem condição de executar todas as manobras para se livrar autonomamente da situação de risco na água.

 

Outra pergunta que precisamos fazer é: uma criança, entre 1 e 4 anos, - faixa onde o afogamento foi a primeira causa de mortes acidentais em 2020, segundo os dados do DataSUS do Ministério da Saúde – tem condições de se salvar (sozinha) de um afogamento com as práticas que ela está aprendendo nas aulas de natação aliadas ao seu desenvolvimento motor e emocional? Cabe realçar que a faixa etária de 1 a 4 anos, usada internacionalmente para a classificação de afogamentos, abrange fases de desenvolvimento muito diferentes, especialmente de 0 a 3 anos, conhecida como a primeiríssima infância, conforme estudos da neurociência.

Respondendo à pergunta feita no parágrafo anterior: depende da forma como as aulas de natação são realizadas, pois para desenvolver na criança as habilidades e competências aquáticas é necessário ter um trabalho que leve em consideração práticas importantes nessa direção, o que nem sempre acontece em aulas de natação regulares, pois, infelizmente, boa parte delas, visa apenas a aprendizagem dos nados e não dedica a necessária atenção para a segurança aquática.

Para oferecer uma aula voltada para a segurança aquática é essencial trabalhar com os alunos o reconhecimento do ambiente, locais de risco na piscina, quedas na água, giros, deslocamentos, força nos membros superiores para se dependurar na borda, flutuação dorsal, trocas de posicionamentos de flutuação, além de ensiná-los como sair da água. Esses fatores de segurança precisam ser treinados regularmente, por isso devem ser incorporados ao currículo de uma aula de natação com viés de prevenção.

Importante registrar que quanto menores forem as crianças, aumenta a necessidade de conscientizar os pais que a autonomia com maior segurança na água é uma meta de longo prazo, ligada ao desenvolvimento global da criança. Orientá-los que o trabalho na piscina com as crianças nos primeiros anos de vida, visa oferecer a elas familiaridade, respeito ao ambiente e habilidades aquáticas e, caso necessitem, como poderão agir em uma situação de dificuldade. Esse é um processo contínuo e que acompanha a evolução maturacional da criança.

Portanto, na primeiríssima infância, especialmente, na maioria das situações, elas não terão a capacidade para resolvê-las sozinhas e, por isso, os pais precisam ter a clareza que as aulas de natação estão proporcionando condições às crianças para lidar com uma situação aquática inesperada, por algum tempo a mais e, como consequência, oferecem a eles mais chances para encontrá-las bem e retirá-las do risco.

Também cabe a informação aos pais, que mesmo quando as crianças tiverem proficiência aquática, eles deverão continuar sua vigilância, e com o passar do tempo, isso não vai cessar, só vai mudar a forma como vai ser feita. Temos que enfatizar, diariamente, que a responsabilidade pela vida da criança é sempre do adulto, em especial quando falamos de ambiente aquático.

Desde o início dos anos 2000, quando intensificamos o trabalho de prevenção de afogamentos, primeiro em nossa academia e, a partir de 2008, através do INATI, com campanhas de conscientização nacional, preferimos do ponto de vista de comunicação, não utilizar a palavra autossalvamento, pois, além de não coincidir com a realidade para uma grande parte das crianças na primeira infância, pode enviar para o subconsciente dos adultos a mensagem de que a criança está apta para cuidar de si própria no ambiente aquático, o que vai frontalmente contra a primeira regra de segurança aquática que diz: quando uma criança está próxima ou dentro da água, a supervisão atenta e constante de um adulto é fundamental.

Em suma, autossalvamento tem um apelo muito forte e gera uma expectativa que ninguém pode garantir nos primeiros anos de vida, onde a reação da criança tem uma implicação intrínseca ao seu grau de desenvolvimento físico, emocional e cognitivo. O uso do vocábulo autossalvamento pode enviar a falsa premissa que a criança, que faz aula de natação, é a prova de afogamento, por isso, na nossa concepção, não deve ser utilizada na comunicação de profissionais e escolas de natação para alunos da primeira infância.


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